17/12/2012

O Artista

Era o amargo mais doce que existia. Era doce porque nasceu assim, se criou assim, era de sua natureza ser assim. E era amargo porque a vida o fez escolher o amargo, para se defender de si mesmo, da parte de si que ele criou para afastar o seu medo de ser feliz. Para se defender de alguma coisa dentro dele, mesmo não tendo coisa nenhuma do que se defender.

Era macio, mesmo quando fazia força para mostrar a aspereza de suas rugas. Era o único no mundo que não sabia o quanto de beleza e o quanto de pureza existia dentro daquela máscara de sobrancelha envergada.

Achava que não tinha amigos, quando estava cercado das melhores pessoas, escolhidas a dedo para ficar perto de alguém que exalava amor sem saber. Pessoas que o admiravam como quem olha pela primeira vez para um quadro de um bom artista: maravilhadas, admiradas, curiosas, intrigadas.

Achava que nunca estava bom, que nunca era suficiente, que nunca mostrava o seu melhor, que ainda tinha muito o que evoluir. E tinha. Como todos tem. Mas era tão bom, tão melhor, tão suficiente e incrivelmente lindo, que nem sabia.

Era um artista brilhante que, como todos os artistas brilhantes, se achava apagado e perdido. Como quem precisa procurar defeitos e criar certa falta de lucidez para justificar seu brilhantismo injusificável.

Achava que fazia o mal para o outros. Quando na verdade só fazia mal para si mesmo. E aí sim, quando achava que já estava fazendo o mal para alguém, começava de verdade a fazer. E cada vez que via que o estava fazendo, passava a fazer mais e mais. Complicado assim.

Era um doce e macio menino que pensava e complicava demais.

E aí então arrancava seus cabelos para tentar arrancar a culpa. E arranhava o peito para tirar dele a dor que concluía ter causado. E batia a cabeça contra a parede numa tentativa de apagar o que não escolheu fazer.

Procurava na dor a cura. Mesmo sabendo que a cura estava naquele abraço. No braço. Nas mãos. Da primeira pessoa que segurou nas suas mãos sem se importar com o que ele fingia ser. E sim com o que ele era de verdade.

E cada vez que ele arrancava um fio de cabelo dele, era como se arrancasse um braço dela. Ela que nos últimos tempos olhava pela janela e só via cinza, mas que olhava nos seus olhos e enxergava todas as cores do arco íris.

E enxergava também a prova de que talvez tudo só tenha acontecido porque não podiam se aconchegar um no abraço do outro. Ele para encontrar a calma e ela para encontrar a cor.

Para deixarem de se sentir fracos e impotentes e passarem a ser donos da mais linda história que já escreveram. Doce, macia, menina e colorida.

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